Meus pais, recém-formados, moravam no interior do Paraná e tinham, junto com meu tio, um escritório jurídico.
Pelo menos naquela época, grande parte dos honorários eram pagos com produtos, carros, motos, geladeiras, enfim, várias coisas eram aceitas como parte do pagamento.
A garagem do escritório, parecia um estacionamento. Era lá que ficavam os bens antes de serem vendidos.
Certa noite meus pais estavam em casa e os chamaram correndo. O escritório estava pegando fogo.
O fogo consumiu tudo que havia no local. Processos, documentos, arquivos completos, carros, motos, enfim, tudo fora queimado.
Lembro-me, como se fosse hoje, eu ainda pequena olhando para o que sobrou daquele sonho.
Minha mãe chorava e meu pai, com macacão jeans e tênis, andava pelos escombros. A cidade parou, todos comentavam sobre a tragédia. Será que era curto-circuito, sabotagem? A especulação era grande.
Meu pai veio até nós com um porta-retrato em mãos e falou: - A foto se foi, mas ainda bem que temos ainda nossa filha para tirar mais fotos!
Naquele momento minha mãe parou de chorar e fomos embora.
Quantas vezes nos preocupamos somente com o material e deixamos a vida passar? Hoje o ano começou no Brasil, e o que você fará com ele? Aproveite mais, se preocupe menos, posso afirmar que vale a pena!
É vero, "brima". Como eu poderia ter esquecido de noite tão trágica? Lembro como se fosse hoje dos gritos da minha mãe e do soluço do meu pai. Doia muito ouvir ele chorando. Sou traumatizada até hoje porque da janela assistimos todo o incêndio sem poder fazer nada. Se vc entrar no meu escritório vai ver o extintor enorme na parede e tenho muito medo de fogo. Um dia, num casamento, começaram a fazer uns malabarismos com bebida e fogo e eu fui embora. Sabe que meu pai levou 15 anos para pagar até o último tostão que ficou devendo a clientes por causa do incêndio? Sim, ele só terminou de pagar tudo quando estava lá em Vilhena.
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