quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Aula de etiqueta - Alface


Resumo da experiência: Aprendi muito com a aula de etiqueta. Passei uns 10 anos sem comer alface. Aprendi sobre qual vinho servir, mesmo que eu não beba. Hoje como alface com prazer, além de gostosa e saudável, com ela, aprendi a fazer origami. Valeu cada lágrima! Medallion de mignon com aspargos continua entre meus pratos prediletos.



Quando eu tinha 10 anos de idade, lembro que meus pais me pediram naquele sábado para voltar cedo para casa. Já pela manhã, a cozinha estava movimentada, não teria festa, não era aniversário de alguém, mas havia um clima diferente no ar.

Passei o dia no clube e quando cheguei em casa me pediram para que eu tomasse banho e vestisse a melhor roupa.Ninguém me falou sobre o evento, a única coisa que eu teria que fazer era me arrumar.

Quando fiquei pronta a mesa estava posta com diversos pratos, 6 talheres, para uma única pessoa. Eu!

Milimetricamente arrumados em minha frente foram sendo colocados vários pratos, inclusive de sopa, 3 tipos de garfos, facas e colheres, taças diversas, várias garrafas de vinho. No começo me senti um pouco "o bebê de Rosemary", algo estava errado e muito errado, pois eu sozinha não beberia todas aquelas garrafas de vinho, nem mesmo comeria aquela infinidade de comidas. Qual o motivo de um jantar tão especial, somente para mim?

Aula de etiqueta!!!!!

Meus pais fizeram um cardápio variado pelo simples motivo de que eu deveria aprender a servir o tipo de vinho específico para cada tipo de prato. Nessa aula não entramos em detalhes de safra ou marca, mas sim o tipo da uva, na época, basicamente o que importava era saber se o vinho tinto eu serviria para acompanhar a carne ou o peixe. O vinho do porto era para servir antes do jantar, durante ou depois. Depois de uma infinidade de regrinhas que não vem ao caso escrever aqui, pelo menos não nesse momento, aprendi em qual copo serve-se água, suco ou outra bebida. Qual o design certo da taça para cada bebida? Aprendi naquela noite.

Após as bebidas serem servidas, eu só pude tomar água, os pratos foram trazidos um a um até mim.

Não pense, caro leitor, que pude me "empanturrar" de comer, a aula foi só uma degustação dos pratos para eu saber o gosto de cada um deles, a forma de comê-los e com que bebida elas combinavam.

Começamos com uma entrada, depois a sopa fria (gaspaccio).....adorei, mesmo sem saber ao certo o que era. Lembro de seu delicioso sabor, até que meu prato ainda cheio foi retirado para continuação da aula. A salada foi servida. Era linda, feita com folhas verdinhas, tomates, endívias palmito, alcaparra e azeitona. O difícil foi saber o que fazer com aquele caroço da azeitona em minha boca. É claro que essa azeitona estava ali propositalmente.

Da mesa da sala eu consegui ver um delicioso filé com aspargos e também uma espécie de peixe. Estava louca para experimentar, mas antes dos próximos pratos eu deveria comer a alface.

Não tive dúvidas, eu não gostava de alface, mas cortei ela inteira e comi tudo. Eu não entendi o motivo de eu não poder comer as outras coisas em quantidade, mas a alface eu tive que comer inteira. Quando acabei de "engolir" a alface e ainda estava de olho no próximo prato, foi servido novamente um prato só com alface! Caramba, pensei, por que as pessoas comem tantas alfaces?

A alface não pode ser cortada e sim dobrada! Ali começou o meu martírio. Dobra de um lado, dobra de outro lado, cai do garfo. Dobra assim, dobra de outra forma e a alface não coube na boca. Dobra de novo "em quadradinho" para ficar com o tamanho certinho para ir à boca e não deu certo, a alface se rebelou e pulou do garfo. Dobra mais uma e chora um pouco. Come alface, come alface, come alface! Era isso que meu cérebro estava entendendo e o meu paladar odiando. Chora mais, chora mais , chora mais e... alface.
Eu não sabia se estava chorando por causa da alface, pela dificuldade ou por que os demais pratos estavam a minha espera. Sei que o meu jantar se resumiu a alface.

Quando eu acertei fazer um "origami" com a tal alface, fui liberada a experimentar os demais pratos e tinha que apontar com qual vinho aquele prato combinava. Só posso te contar que depois do episódio da alface, todo cardápio que se seguiu teve gosto de alface e lágrimas. Fique até com vontade de "experimentar" todo o vinho.

Experimentei o sorbet, uma espécie de sorvete sem muito sabor e sem gordura, utilizado para tirar o sabor do salgado, dessa forma sentimos melhor o sabor do doce.

As sobremesas recusei, só lembro que apontei para o vinho licoroso e minha aula acabou!

Após a aula, todos os "colaboradores" do jantar, foram deliciar-se com as comidas finamente preparadas e eu fui pro quarto tentar digerir a alface.

Se eu gostei da aula? Amei!!! Embora lembre da minha "amiga cabeça verde" até hoje, aprendi muito. Aprendi quais talheres utilizar, qual o vinho, quais pratos, modelos de taças,  alguns tipos de cardápio e as formas de servir.



Hoje em dia, muita vezes estou com o guardanapo no colo, degustando uma deliciosa salada e com um enorme sorriso nos lábios. E viva a alface!!!!!


Resumo da experiência: Aprendi muito com a aula de etiqueta. Passei uns 10 anos sem comer alface. Aprendo sobre qual vinho servir, mesmo que eu não beba. Hoje como alface com prazer, além de gostosa e saudável, com ela, aprendi a fazer origami. Valeu cada lágrima! Medallion de mignon com aspargos continua entre meus pratos prediletos.



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