Resultado da experiência: Cultura, diversão, tremedeira, adrenalina, risadas, exercícios físicos e quase de graça!
Carro roubado e perucas.
Sábado ensolarado, curtindo uma piscina na casa das primas e
nenhuma programação para a noite.
Ouvimos a notícia que o Primeiro Festival de Teatro de Curitiba
começaria naquele dia. Ótimo, já tínhamos programação noturna, cultural e possivelmente divertida.
Arrumamo-nos com as melhores roupas, os melhores perfumes,
maquiagens e pegamos o carro. Ops, ele não funcionou. Descemos uma enorme rampa
da casa para pegar no tranco, sem saber que aquele carro, automático na época, não poderia ser empurrado daquela maneira, o que só fez piorar a situação do
coitadinho.
Pronto, as duas primas, lindas, e quase arrumadas, a não ser
pela mão suja de graxa e o suor que escorria pelo rosto. E agora? Dinheiro para
o táxi, não era o suficiente. Tínhamos muito pouco em mãos. Como saída de uma
lâmpada genial, a ideia apareceu. Pegaremos o carro do porteiro emprestado.
Seu carro era um Chevette, absurdamente medonho. Tinha massa
(acho que de modelar) distribuído na traseira do carro quase em sua totalidade.
Os vidros só abriam um pouquinho, não tinha som, buzina e nem trinco
para travar a porta. Fazer o que, era a opção, aliás a melhor no momento.
Perder o teatro, Nelson Rodrigues, nunca!
Certo, duas meninas, re-perfumadas, penteadas e de salto
alto, fazendo o carro pegar no tranco, funcionou. Teatro lá vamos nós! Mas
espere, e se nos virem assim? Hummm, perucas da vovó. A vovó teve câncer por
muitos anos e a sua coleção de perucas era vastíssima. Pronto: Lindas,
perfumadas, de salto alto, de Chevette e de perucas. Agora sim, teatro, lá
vamos nós!
Chegando na Praça Ozório, colocamos o carro no
estacionamento mais próximo ao teatro do Palácio Avenida. O carro não poderia
ficar na rua, não tinha tranca e nem subiam as janelas. Juntamos os trocados
para o estacionamento com a ajuda do dinheiro do porteiro. Guardamos as perucas
no banco de trás do carro e partimos para o teatro.
O teatro estava lotado, a peça um pouco lenta para meu
gosto, ou pelo menos para meu espírito naquele dia. Assistimos até o final,
mesmo que muitas vezes eu tenha tido
vontade de dormir. Acabou a peça e decidimos passar no Graciosa para dar um
beijo em uma amiga que estava fazendo aniversário.
Chegando ao estacionamento, percebemos que tínhamos perdido
o comprovante. O funcionário perguntou qual seria o carro. Vimos um Chevette
com a janela meio aberta, uma cor pálida perecido com o nosso e apontamos em
sua direção. Ele nos trouxe o carro e partimos.
Umas 15 quadras depois, resolvemos colocar as perucas. Meu
Deus, roubaram as perucas!!!! Não, deve estar no porta-luvas? O que é isso no
porta-luvas? Moldes de roupas com pequenos pedaços de tecido, algo meio
suspeito para um porteiro, mas, o importante era saber onde colocaram a peruca
de nossa avó. A essas alturas ela devia estavar se remoendo.
Certo, começamos a suar, eu abri a janela e liguei o rádio.
Nesse momento um ar quente e gelado indescritível, correu meu corpo da cabeça
aos pés, ou ao contrário? Não sei ao certo, penso que aquela altura já nem sentia mais meus pés. Pri- pri-prima,
eles não roubaram a peruca, nós roubamos o carro!
Estávamos ainda perto do estacionamento, mas a adrenalina
não nos permitiu voltar diretamente ao estacionamento, entrávamos em ruas na
contramão, íamos para o lado errado, como se nunca tivéssemos conhecimento de
que algum dia a Praça Ozorio existiu. Respiramos fundo, pensamos no roteiro e
enfim, chegamos ao estacionamento.
Na porta havia um homem com duas mulheres, o funcionário e o
gerente do posto. Fomos simpáticas
acenando de longe para mostrar que não tínhamos
culpa no cartório. As pessoas olharam atentamente e conseguimos perceber
o suspiro de alívio daqueles seres.
Descemos do carro, explicamos o ocorrido e quando parecia
tudo explicado e perfeito, o funcionário surge do fundo do estacionamento,
empurrando um carro , ( não queria pegar nem no tranco), e para ajudar, caindo aos pedaços! Nessa hora, consegui
perceber que a diferença entre os dois
carros era gritante. Alhos e bugalhos! O dono “roubado” quis nos bater, e com
razão. Não teve êxito, pois o coração do proprietário do estacionamento, não era
“peludo”. Irritadíssimos, todos foram embora e nós partimos de perucas e
empurrando o carro rumo a festa no Graciosa.
Algumas quadras dali o carro pegou. Chegamos ao Graciosa, o
clube estava todo iluminado, vários conhecidos chegando e nós paramos o carro
em uma pequena rampa, além de ser a única vaga, seria fácil dar o tranco se o
carro resolvesse não reagir.
Assim que descemos do carro, ele desceu também. Deu tempo de
freá-lo. Descobri que o freio de mão era mais uma coisa que faltava naquele
veículo. Para não perdermos a festa, combinamos que, cada uma ficaria meia hora na festa e retornaria
para ficar de “freio humano” por mais meia hora.
Acabou sendo divertido, entre uma troca de freio, uma peruca
diferente a madrugada avançou. Hora de ir embora, pernas doendo e perucas
suadas, partimos para casa.
Cabral – Barigui, simples, já tínhamos passado por tudo
mesmo! Ledo engano!!! Algumas quadras depois, o carro parou. Tranco daqui, empurra
dali, nada do carro pegar! - Pri-pri-prima, acabou a gasolina. - Como você sabe?
O marcador não está funcionando! Vamos empurrar até um posto e vemos.
Duas primas, suadas,
não tão perfumadas, unhas com graxa, sem saltos, sem sapatos, perucas
descabeladas, com dor nas pernas, sem dinheiro e com o carro pifado! Nada podia
ser pior naquele momento. Podia sim!, além de tudo isso estávamos sem dinheiro,
pois pagamos o estacionamento do teatro com a “vaquinha” que fizemos.
Família viajando, amigos em casa (não podíamos ligar para alguém devido ao horário), não usávamos celulares ainda. O que fazer? Lembra
aquela notinha de dólar que guardamos na carteira aparecendo a pirâmide,
benzida por um monte de gente e que era pra dar sorte? Ela mesma. Deu sorte! Pedimos
para o frentista abastecer um dólar e ele riu, aliás gargalhou, dizendo que o posto não aceitava
dólar. Minutos depois, acabou aceitando. Acho que teve pena da situação das
duas. Fomos direto para para casa devolver o carro ao porteiro.
O sol raiava e aos poucos era possível perceber que o carro
era multicolorido. Ele era muito pior do que podíamos imaginar. A noite todos
os gatos são pardos, não é?
Domingo ensolarado, final da tarde, Avenida Batel bombando e
partimos para tomar um sorvete na avenida.
Dessa vez minha tia estava em casa e emprestou o carro. Um Monza MPFI sem
placas ainda, lindo, recém saído da loja. Estacionamos na avenida, tomamos
sorvete, batemos papo, entramos no carro e fomos embora. Tranquilas de que tudo
acabara bem.
Acabaria bem se não fosse um
telefonema. Uma voz
estridente berrava aos quatro ventos. -Será que sua filha e sua sobrinha poderiam
devolver o carro que roubaram na Avenida Batel hoje???????????????????????????
Como pode uma única chave conseguir abrir portas de carros
diferentes?
Para não ter que deixar de sair com minha prima, comprei o
MEU carro!!! Simples assim!
Resultado da experiência: Cultura, diversão, tremedeira,
adrenalina, risadas, exercícios físicos e quase de graça!
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ResponderExcluirO mais engraçado é que, ontem (29/01/2013), cada filha ganhou de meu pai, um dólar dobrado. Detalhe, ele nem tinha lido o texto ainda....rs
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