Comemorei adiantado, afinal dizem que a vida começa aos 40, então resolvi aproveitar os 40 por mais tempo.
Não comprei roupas novas, como de costume. Resolvi usar um vestido antigo que certa vez "emprestei" da minha mãe.
Eu não sabia que este vestido tinha história e sem saber usei o "vestido verde" para comemorar uma data tão importante na minha vida.
Um vestido grátis, teve muito mais valor que qualquer roupa nova que eu poderia ter comprado.
Vejam o texto que recebi ontem:
VESTIDO VERDE
Sim, era um vestido comum para muitos, mas com muita
história.
Lembrou filme antigo que nossos pais e avós nos pediam para assistirmos,
sobre uma casaca elegante masculina, que esteve vestindo um nobre em baile de
gala, mais tarde foi a outro dono, a outro, até que serviu para cobrir um
mendigo em noite de frio na nublada Londres e suas carruagens do século
passado.
Mas voltando ao vestido, era longo em estampado verde e
outras cores, como um traje indiano, hoje tão na moda.
Só que foi adquirido há mais de 40 anos, na loja Girassol,
ao lado do Cine Ópera, ali na rua XV.
Como? Não tem mais o Ópera? Bem, para localizar de onde veio
tal traje, era uma loja ao lado de onde é a Mesbla, na Boca Maldita.
Foi caro, boa parte de um salário de quem está iniciando
seus trabalhos jurídicos, de alguém que ainda sonha em terminar o curso de
Direito, mas já recebe por conta do bom advogado papai.
E o vestido serviu a tantas festas!
Andou com a filha, hoje 40. Também vestiu o filho, hoje 37.
Calma, leitor!
Nem dei o detalhe e já imaginaram que o filho gosta de
fantasias.
É melhor do que pensam!
Eu, grávida, estive muito elegante uma vez com Ariadne ,
outra com Rodrigo Otávio no ventre, daí usar a expressão de que ambos usaram
meu vestido.
Desfeita a dúvida, vamos ao detalhe.
Um longo com bom decote, mangas largas, com ar de nobreza,
embora tenha vestido cidadã comum.
Ficou comigo algumas décadas, viajou nos bailes no sudoeste,
onde eu advogava, voltou a Curitiba e sempre me prestigiou. Sim, o vestido me
prestigiou, porque eu via nesse algo mágico, mesmo sem saber porque, sempre
vinha ás minhas mãos na hora de me vestir para alguma cerimônia especial.
Lógico que eu não usava todas as vezes que meus dedos o tocavam, senão seria a
mulher do único vestido.
Mas ele andava comigo e me entendia como poucos!
E eu vivia feliz, enquanto via meus filhos crescerem, minhas
netas Luiza e Rafaela chegarem, o muro cair, o presidente cair, a presidente
subir.
E lá se foram 40 anos que eu tive uma dorzinha de barriga e
o médico pediu para eu ir ao Hospital Nossa Senhora do Rosário, atrás da antiga
Rodoviária. À época, a única de Curitiba.
Eu fui com sapato alto, meia calça escura, vestido negro com
corações vermelhos, o mesmo usado na Lua de Mel, ver se minha criança estava
bem, afinal ela teria de ficar lá mais um mês.
A enfermeira me levou para um quarto e começou a fechar
enormes persianas. Lembro que minutos antes não queria sair do bidê, ao lado da
patente e minha mãe disse:
_”Anita, levanta daí! Vai que o bebê resolve nascer e bate a
cabeça”!
Eu ri bastante, afinal, faltava algum tempo.
E naquele quarto escuro, senti mais uma grande fisgada, um
misto de dor de estomago e de nó nas tripas.
Ouvi um choro de bebe e pensei ser de alguma criança ao
lado.Quando a parteira Blandina, jamais poderei esquecer deste nome em momento
especial me disse:
“-Nasceu! É uma menina!”
E eu, só pude dizer:
“Mas, já nasceu? Eu não acredito”!
E assim foi a chegada de
minha Ariadne a este mundo bom, perfeito e lindo de viver.
Com a mesma emoção que eu a recebi naquela tarde de
sexta-feira, o faço agora, ao abraçá-la pelos seus 40 anos de vida.
E o vestido? Calma, leitor!
Ah, o vestido. Ia me esquecendo.
Sim, aquele longo em tons de verde, com mangas soltas muito
parecido do usado pelas princesas em contos de fadas?
Ah, este vestido estava a emoldurar o sorriso e a alma de
minha Ariadne em seu aniversário.
Querem mais história do que esta???????
Que bom se todos os vestidos, ao serem confeccionados
pudessem ter história com meio feliz como esta.
Qual será o final deste vestido? Será que alguma neta minha
irá usá-lo?
Se servir para embelezar mais alguém, agradecerei todos os
dias por este pedaço de pano ter unido para todo o sempre duas gerações, mãe e
filha que falam por música, que cantam pelo silêncio da madrugada, que encantam
pela presença de gente mui amada.
Com estas palavras, desejo que Ariadne tenha mais histórias
para contar deste e de outros vestidos, mais ou menos vistosos do que o nosso
amado vestido verde.
Que a vida seja uma surpresa tão boa quanto a que você me
proporcionou hoje, Ariadne ao escolher no meio de tantos, para comemorar suas 4
décadas de vida, o vestido verde.
Amada filha, bendita a hora em que você nasceu.
De tão boa filha… eu não acredito!
(Anita Zippin, advogada, jornalista, vice-Presidente da
Academia de Letras José de Alencar e da Associação Mundial de Periodistas e
Escritoras)
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